segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

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Cinza - Gabi Belardinucci

Levanto. O dia me abraça triste.
Olho no espelho, meus olhos sorriem de profunda tristeza cinza.
Sento na cama e espero, espero... Espero!
Tudo parece gélido, sólido, cinza.
Esfrego os olhos para entender, não encontro resposta.
Dói e dói tanto que parece gelo queimando a pele.
Tento chorar, mas as lágrimas congelaram;
o coração congelou, o tempo, a Terra, a vida.

Sorrio e sorrir dói n’alma.
Perdida no cinza de meus olhos e do céu
encontro as lágrimas que procurava:
atrevo-me a alma.

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domingo, 27 de janeiro de 2013

Poesia!

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Explicação - Carlos Drummond de Andrade

Meu verso é minha consolação.
Meu verso é minha cachaça. Todo mundo tem sua cachaça.
Para beber, copo de cristal, canequinha de folha-de-flandres,

Folha de taioba, pouco importa: tudo serve.

Para louvar a Deus como para aliviar o peito,
queixar o desprezo da morena, cantar minha vida e trabalhos
é que faço meu verso. E meu verso me agrada.

Meu verso me agrada sempre...
Ele às vezes tem o ar sem-vergonha de quem vai dar uma cambalhota,
mas não é para o público, é para mim mesmo essa cambalhota.
Eu bem me entendo.
Não sou alegre. Sou até muito triste.
A culpa é da sombra das bananeiras de meu país, esta sombra mole, preguiçosa.
Há dias em que ando na rua de olhos baixos
para que ninguém desconfie, ninguém perceba
que passei a noite inteira chorando.
Estou no cinema vendo fita de Hoot Gibson,

de repente ouço a voz de uma viola...
saio desanimado.
Ah, ser filho de fazendeiro!
À beira do São Francisco ou de qualquer outro córrego vagabundo,

é a sempre a mesma sem-si-bi-li-da-de.
E a gente viajando na pátria sente saudades da pátria.

Aquela casa de nove andares comerciais

é muito interessante.
A casa colonial da fazenda também era...
No elevador penso na roça,
na roça penso no elevador.

Quem me fez assim foi minha gente e minha terra
e eu gosto bem de ter nascido com essa tara.
Para mim, de todas as burrices a maior é suspirar pela Europa.
A Europa é uma cidade muito velha onde só fazem caso de dinheiro

e tem umas atrizes de pernas adjetivas que passam a perna na gente.
O francês, o italiano, o judeu falam uma língua de farrapos.
Aqui ao menos a gente sabe que tudo é uma canalha só.
Lê o seu jornal, mete a língua no governo,
queixa-se da vida (a vida está tão cara)
E no fim dá certo.

Se meu verso não deu certo, foi seu ouvido que entortou.
Eu não disse ao senhor que não sou senão poeta?


O meu verso também é minha cachaça e é triste, às vezes, muito triste. Mas o triste é belo...

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domingo, 20 de janeiro de 2013

sábado, 19 de janeiro de 2013

Poesia!

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Tempestade - Gabi Belardinucci

O céu escurece rapidamente,
o vento está furioso,
as nuvens se confundem com o cinza do céu.

A tempestade se aproxima, eu sei.
Abro a janela, abro os braços:

entrego-me.
Deixo que a tempestade me abrace,

leve aquilo que foi ruim
e traga o Sol com gosto de novidade.

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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Poesia

, Sabe quando você se sente meio 'não-vivo', ou não vivendo? E o sempre, sempre aquele quase, aquele 'e se'... E o cheiro de queimado, talvez o arroz no fogão, talvez a armadura, dura, no meu coração.

O enterrado vivo - Carlos Drummond de Andrade

É sempre no passado aquele orgasmo,
é sempre no presente aquele duplo,
é sempre no futuro aquele pânico.

É sempre no meu peito aquela garra.
É sempre no meu tédio aquele aceno.
É sempre no meu sono aquela guerra.

É sempre no meu trato o amplo distrato.
Sempre na minha firma a antiga fúria.
Sempre no mesmo engano outro retrato.

É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.

Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo
E sempre no meu sempre a mesma ausência.

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segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Para um bom dia!

, Bom Dia lindas e lindos! E mais uma semana começa né? Sinto-me renascendo cada dia, cada dia, cada dia...

Inscrição para um portão de cemitério - Mario Quintana


Na mesma pedra se encontram,
Conforme o povo traduz,
Quando se nasce - uma estrela,
Quando se morre - uma cruz.
Mas quantos aqui repousam

Hão de emendar-nos assim:
"Ponham-me a cruz do princípio...
E a luz da estrela no fim!"

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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Poesia...

, E o medo... Sabe aquele sentimento que nos impede de fazer alguma coisa? Então, esse mesmo. Esse que te cutuca, que te machuca e que te avisa. E você não faz, muitas e muitas vezes não faz e pensa no medo. Mas chega um dia (e vai por mim, ele chega mesmo) que você decide dar um basta no medo; matá-lo e enterrá-lo. Neste dia você começa a ser feliz de verdade!

Medo - Carlos Drummond de Andrade

Em verdade temos medo.
Nascemos escuro.
As existências são poucas:
Carteiro, ditador, soldado.
Nosso destino, incompleto.

E fomos educados para o medo.
Cheiramos flores de medo.
Vestimos panos de medo.
De medo, vermelhos rios
vadeamos.

Somos apenas uns homens
E a natureza traiu-nos.
Há as árvores, as fábricas,
Doenças galopantes, fomes.

Refugiamo-nos no amor,
Este célebre sentimento,
E o amor faltou: chovia,
Ventava, fazia frio em S.Paulo...(...)

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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Chuva!

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Enquanto as pessoas fecham as janelas e se escondem da chuva, eu abro, deixo a chuva entrar; toda aquela energia maravilhosa, lavando a alma.

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segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Exclamação


,
"E, de qualquer forma, estamos todos mortos, ou nem nascemos, e toda a vida é na verdade um sonho." Thomas Lang - O Vendedor de Armas

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sábado, 5 de janeiro de 2013

Poesia!

, Bom Dia ou não, nunca se sabe. Aliás, sei muito pouco ou quase nada.

Pequena Ode Mineral - João Cabral de Melo Neto

Desordem na alma
que se atropela
sob esta carne
que transparece.

Desordem na alma
que de ti foge,
vaga fumaça
que se dispersa,

informe nuvem
que de ti cresce
e cuja face
nem reconheces.

Tua alma foge
como cabelos,
cunhas, humores,
palavras ditas

que não se sabe
onde se perdem
e impregnam a terra
com sua morte.

Tua alma escapa
como este corpo
solto no tempo
que nada impede.

Procura a ordem
que vês na pedra:
nada se gasta
mas permanece.

Essa presença
que reconheces
não se devora
tudo em que cresce.

Nem mesmo cresce
pois permanece
fora do tempo
que não a mede,

pesado sólido
que ao fluido vence,
que sempre ao fundo
das coisas desce.

Procura a ordem
desse silêncio
que imóvel fala:
silêncio puro.

De pura espécie,
voz de silêncio,
mais do que a ausência
que as vozes ferem.



Desordem total: desordem na vida, na alma e no guarda-roupas.

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sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Poesia...

, Bom dia boas almas que aqui habitam. Hoje arrumei meu guarda-roupas e o que encontro? Papéis de carta e poesias... Ahhh que coisa boa que é encontrar poemas que recortei há muito tempo.
Alguns de vocês nem devem saber muito o que são papéis de carta, mas as meninas colecionavam sabe?! E são lindos, realmente lindos...
Vou voltar a escrever cartas, acho.

De manhã - Paulo Henriques Brito

O hábito de estar aqui agora
aos poucos substitui a compulsão
de ser o tempo todo alguém ou algo.

Um belo dia - por algum motivo
é sempre dia claro nesses casos - 
você abre a janela, ou abre um pote

de pêssegos em calda, ou mesmo um livro
que nunca há de ser lido até o fim
e então a ideia irrompe, clara e nítida:

É necessário? Não. Será possível?
De modo algum. Ao menos dá prazer?
Será prazer essa exigência cega

a latejar na mente o tempo todo?
Então por quê?
E neste exato instante
você por fim entende, e refestela-se
a valer nessa poltrona, a mais cômoda
da casa, e pensa sem rancor:
Perdi o dia, mas ganhei o mundo.
(Mesmo que seja por trinta segundos.)

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quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

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"Querida Claire, 
‘E’ e ‘se’ são palavras que, por si, não apresentam nenhuma ameaça. Mas, se colocadas juntas, lado a lado, elas têm o poder de nos assombrar a vida toda. E se… E se… E se… 
Eu não sei como a sua história terminou, mas se o que você sentia naquela época era verdadeiro amor, então nunca é tarde demais. Se era verdadeiro então, por que não seria agora? Você só precisa de coragem para seguir seu coração.
É difícil imaginar um amor como o de Julieta, um amor que nos faça abandonar entes queridos, que nos faça cruzar oceanos. Mas eu gostaria de acreditar que se eu um dia sentir esse amor, terei coragem de perseguí-lo. E, Claire, se não o fez naquela época, espero que ainda o faça um dia. Com todo amor, Julieta." Cartas Para Julieta

Sim amigos, me rendi ao romance lindo desse filme... E acredito no amor! É isso mesmo: EU ACREDITO NO AMOR! Rasgo-me o peito e grito: EU ACREDITO NO AMOR!

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Poesia.

, Oi mundo virtual! Como é solitário aqui... Sinto que poderia gritar e gritar e gritar e ninguém escutaria. Poderia até chorar, chorar muito, chorar até adormecer... Ninguém notaria meus olhos inchados.
Talvez essa solidão seja passageira. Posto aqui um poema (sim, eu espero que a autoria esteja certa):

Fanatismo - Florbela Espanca

Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver
Não és sequer a razão do meu viver
pois que tu és já toda minha vida
Não vejo nada assim enlouquecida…
Passo no mundo, meu amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história, tantas vezes lida!
"Tudo no mundo é frágil, tudo passa…"
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina, fala em mim!
E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como um deus: princípio e fim!…"

Eu já te falei de tudo, mas tudo isso é pouco,
diante do que sinto.

Acompanhas minha solidão, caro leitor?
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