sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Lançada ao mar aberto

Chega um momento na vida das gentes, um momento bem doloroso, em que o nosso último alicerce, aquilo que segurava nossa estrutura ali em pé, intacta, cai.
É nítida a impossibilidade de manter as coisas como eram, a tal da constância da vida. Sendo uma grande vivente do carpe diem (às vezes até demais) detesto admitir que a gente precisa dessa imutabilidade, para sempre saber que teremos um porto onde voltar, quando o barco apresentar qualquer defeito, ou precisarmos fincar nossos pés novamente na terra.
Até agora em que escrevo isso - ao som das músicas mais tristes que consegui reunir, já que uso a tristeza pra "criar" - não sei direito se perdemos alicerces ou amarras. A pessoa que vos escreve é incapaz de começar um texto e terminar com a mesma ideia, desculpa.
Talvez, sejam amarras. Um porto-seguro, de qualquer maneira, é um lugar para voltar; porém a gente só vive no presente e caminha pro futuro. Então, se estamos com o barco em alto mar, voltar pro mesmo porto em que zarpamos seria como viver no passado, certo?!
(começou a tocar Quem Sabe isso quer dizer Amor, peguem seus lenços e me acompanhem)
Na verdade, eu nunca quis um porto. Olho pra minha vida mais como uma grande festa, em que caminhamos sob o mar, sem amarras, e estamos sempre adentrando o mar de algumas pessoas. Elas unem os mares delas aos nossos (e começamos a montar nosso oceano que alguns chamam de idade adulta).
É chegada a hora de aceitar que há pessoas que não querem fazer parte do seu oceano. Fizeram parte de seu mar, mas o oceano delas e o seu nunca mais se cruzará (nem quanto mais ao sul você for). Mas quando os seus mares se tocaram algumas moléculas - muitas delas, vá lá - do seu mar fez e sempre fará parte do dela.
Todo dia, no seu oceano, vai ser dia de convergências e separações. Umas doem pra valer, outras a gente entende mais fácil. E tem aqueles mares que misturaram com o seu e você nem sabe mais qual água é de quem, a essas eu chamo de amigos.