terça-feira, 15 de março de 2022

A Torre

; parece até que foi ontem que estávamos ouvindo Frozen no sofá. Naquele momento, por um breve espaço de tempo, não me senti tão solitária. As esquisitices, algumas breguices, o contemplar do silêncio, tudo isso fazia parte de uma coisa muito maior, algo que existiu e resistiu ao tempo, à distância, às diferenças políticas...

Mas foi ontem, ontem mesmo, que me dei conta. Só ontem aprendi você, aprendi seu eu machucado, cansado e, dentro desse eu, nunca teve espaço para mim. Digo isso pois não foi a primeira vez que as "brincadeiras" e pequenas grosserias coexistiram num dia de céu azul. Todas as vezes em que esteve no seu limite, você quase ultrapassou o meu - convenhamos, dessa vez você ultrapassou mesmo -.

Não houve tempo para que a gente se apaixonasse. Era uma amizade muito bonita e honesta. E digo isso no passado, mesmo com muita dor, porque dentre as coisas que me magoam, ser mal interpretada e ver que alguém que eu achava, que eu permiti me conhecer, não quis de fato, olhar pra dentro de mim, tem um gosto amargo demais, não desaparece facilmente.

Às vezes parece que foi proposital, quanto mais eu me aproximei, sem nenhuma intenção obscura ou que não fosse recíproca, mais sua dor me afastou. 

Essa semana, ao estudar o tarô, eu tirei repetidas vezes a carta da torre. Estava ali mas me recusei acreditar que algo que parecia tão sólido, poderia desabar tão facilmente. Não vou dizer que é impossível, nada é, mas o estrago no quarteirão que um desmoronamento causa leva muito tempo para reconstruir. Precisa limpar o ambiente, juntar o entulho e examinar cuidadosamente o que ainda importa, o que precisa ser deixado de lado e o que pode ser agregado à nova estrutura.

Eu iria em todas as exposições possíveis mesmo achando o ambiente sufocante, opressor e preferir, mil vezes, estar ao ar livre. Iria apenas pelo prazer da sua companhia. 

Eu não tive nem tempo nem a chance de me apaixonar por você. Eram duas solitudes, uma muito trabalhada (talvez demais) e outra escondida numa casinha lá no fundo, camuflada nas diversões casuais que preenchem um breve espaço de tempo. Eram apenas pessoas que gostavam uma da companhia da outra.

Naquele dia em que você me disse 'não se preocupe, você não está sozinha, eu vou cuidar de você', eu acreditei. Não pude responder, não tinha condições, contudo, diria que você também não está sozinho, eu estou aqui.

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